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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Cana, Açúcar e Álcool: Preços estáveis no curto e no longo prazo

Cana, Açúcar e Álcool: Preços estáveis no curto e no longo prazo

Colheita de Cana-de-AçúcarCana-de-açúcar 

A safra de cana-de-açúcar 2010/2011 se desenvolve bem, o clima ajuda e as condições de produção voltam à média histórica. Já a demanda interna por álcool cresce, dando sustentação aos preços. Apesar da boa evolução da safra, o que dá melhor equilíbrio financeiro ao setor, no entanto, é o açúcar para exportação. As vendas externas reforçam o caixa das usinas e permitem melhor remuneração à cana entregue pelos produtores. Os dados do Consecana - indicador mensal que serve para reajustes de preços do setor conforme as receitas de vendas - mostram que o faturamento obtido com as vendas externas de açúcar são 63% maiores que as com álcool hidratado. O açúcar que está sendo embarcado foi negociado com contratos antigos, quando os preços praticados no mercado internacional eram mais elevados. Esses contratos já fixados giram próximos de 22 centavos de dólar por libra-peso. Atualmente, o mercado futuro negocia o açúcar a 17 centavos de dólar por libra-peso na Bolsa de Nova York. A remuneração do açúcar permite que a cana entregue em junho pelos produtores seja paga a R$ 46,00 em média por tonelada. Essa média é formada basicamente pela remuneração do açúcar. Se as usinas produzissem apenas açúcar, com os preços atuais de mercado poderiam pagar até R$ 56,00 por tonelada de cana. A remuneração das usinas com as vendas do etanol hidratado permitem o pagamento, no entanto, de apenas R$ 36,00 por tonelada. Como as usinas remuneram a cana pela média, as que operam apenas com a produção de álcool estão pagando 28% a mais pela matéria-prima do que estão faturando com a venda do produto industrializado. Neste semestre, as empresas poderão fazer a compensação dessa perda. 

Segundo dados divulgados pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul do País entre o início de abril e 15 de junho chegou a 173,65 milhões de toneladas, uma alta de 20,38% sobre as 144,25 milhões de toneladas em igual período da safra 2009/2010. A quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) no acumulado desde o início da safra 2010/2011 chegou a 124,85 kg por tonelada de cana, 2,28% superior aos 122,07 kg obtidos no acumulado ate 15 de junho da safra anterior. O aumento na moagem ocorre pela antecipação do início das atividades em um significativo contingente de unidades produtoras, com as duas últimas usinas previstas para iniciar a safra 2010/2011 começando as operações na primeira quinzena de junho. Adicionalmente, as condições climáticas permaneceram excepcionais para a colheita da cana nesse início de safra: o indicador de precipitação pluviométrica na região Centro-Sul em maio foi 53,95% inferior ao valor histórico para o mês, tendência que se manteve na primeira metade de julho. A escassez de chuvas deve prejudicar o desenvolvimento vegetativo de parte do canavial e comprometer a produtividade da cana-de-açúcar a ser colhida no último terço desta safra, a partir de setembro e outubro. Diante do cenário, a Unica voltou a informar que realiza uma revisão da previsão para da safra 2010/2011, a ser divulgada nos próximos meses. A produção de etanol cresceu 17,5% e a de açúcar disparou 30,88% no acumulado até 15 de junho, da safra 2010/2011, nas usinas e destilarias do Centro-Sul, em relação ao mesmo período de 2009/2010. 

Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), entre abril e a primeira quinzena de junho a produção de etanol somou 7,18 bilhões de litros, contra 6,11 bilhões de litros no mesmo período do ano passado. A produção de açúcar saltou de 6,84 milhões de toneladas para 8,95 milhões de toneladas entre os mesmos períodos. Do total de cana processada do início da safra até o dia 15 de junho, 43,34% foram destinados à produção de açúcar e 56,66% ao etanol. A situação conjuntural do mercado de açúcar, que apresenta forte demanda física pelo produto, e os compromissos assumidos por boa parte das empresas fizeram com que a produção de açúcar fosse mais intensa nesse início de safra. As vendas de etanol em maio superaram as de gasolina pela primeira vez em 2010, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Segundo a Unica, a ANP apontou um volume de gasolina “A” consumido em maio, considerando a mistura de 25% de etanol anidro à gasolina, de 1,74 bilhão de litros, enquanto o volume total de etanol demandado alcançou 1,87 bilhão de litros, 7,72% superior ao volume consumido do combustível fóssil. O que mais impressiona nesse cenário é que o consumo total de etanol em maio de 2010 foi superior ao volume consumido em 2009 em 3,70%, com um cenário de preços bastante distinto. Em maio do ano passado o etanol era economicamente competitivo em relação à gasolina em 19 estados brasileiros, enquanto que em 2010 o etanol era competitivo (nesta época) em apenas nove estados. 

O aumento da frota flex fuel puxou o consumo do etanol mesmo com o combustível economicamente menos viável que a gasolina. As vendas de etanol combustível a partir das unidades produtoras do Centro-Sul do País atingiram 1,10 bilhão de litros na primeira quinzena de junho, redução de apenas 1,14% em relação à última quinzena de maio, que, no entanto, tinha um maior número de dias disponíveis para o consumo do produto. Das vendas totais das unidades do Centro-Sul na primeira quinzena de junho, 977,05 milhões de litros foram destinados ao mercado interno e 127,71 milhões de litros ao mercado externo. Apesar de as exportações permanecerem em patamares muito baixos, o resultado da primeira quinzena de junho representa alta de 23,91% sobre a última quinzena de maio. No mercado interno, as vendas de etanol hidratado pelas usinas do Centro-Sul na primeira quinzena do mês passado totalizaram 701,82 milhões de litros. Se comparadas as vendas médias diárias do produto, houve alta de 3,22% entre a última quinzena de maio e a primeira de junho: de 45,32 milhões de litros de etanol hidratado por dia, para 46,78 milhões de litros/dia.
Colhedora de Cana John Deere em açãoAçúcar 

Os preços do açúcar estão estáveis no mercado interno e no mercado externo. A tendência é de estabilidade dos preços internos do açúcar, com a estabilização dos preços futuros, oferta interna mais equilibrada e demanda firme. No mercado interno, o Indicador ESALQ à vista do açúcar cristal está cotado em R$ 40,22 por saca de 50 Kg, contra a média de R$ 40,34 por saca de 50 Kg na semana anterior. De modo geral, o Indicador vem se mantendo na casa dos R$ 40,00 por saca de 50 Kg desde o início do mês de junho. No mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), os preços já subiram 3,4% em julho, pois a demanda segue forte e o ritmo de exportação do Brasil é lento. O contrato outubro de 2010 está cotado ao redor dos 17 centavos de dólar por libra-peso. Único país no mundo a ofertar açúcar no momento, o Brasil vem recebendo nas últimas semanas uma quantidade elevada de navios para embarcar o produto. São importadores da Rússia e de países asiáticos que aproveitam os preços 40% mais baixos que no início do ano para repor seus estoques, hoje em níveis críticos. No Porto de Santos, o principal canal de saída da commodity, a fila chegava a 46 embarcações e outras 12 estavam a caminho. No Porto de Paranaguá (PR), havia outros 28 navios. Pela programação dos portos, os embarques de açúcar devem atingir 2,84 milhões de toneladas em julho, 75% mais que no mesmo período de 2009, quando atingiram o recorde de 1,6 milhão de toneladas. A explosiva demanda desafiará novamente a restrição logística dos portos brasileiros. Apesar da estimativa da Organização Internacional de Açúcar (OIA) de que a oferta será menor do que a demanda nesta temporada que termina em setembro (2009/2010), o mercado futuro não está se deixando conduzir por isso. 

No lado da demanda, os países importadores continuam dando suporte aos preços internacionais, especialmente antes do feriado islâmico do Ramadã, em agosto. A produção de açúcar da Índia deve subir para 25,5 milhões de toneladas no próximo ano comercial (2010/2011), contra 18,7 milhões de toneladas registradas em 2009/2010, devido ao forte aumento da área plantada com cana, segundo a Associação das Usinas de Açúcar da Índia. A área de cultivo deve crescer 19% em 2010/2011, o que elevará a produção de açúcar. O país produziu 25 milhões de toneladas apenas duas vezes na última década, nas temporadas 2006/2007 e 2007/2008. O provável salto na produção sugere que a Índia deve suspender as importações a partir de 2010/2011, após dois anos consecutivos de escassez. Na verdade, o país pode conseguir exportar algum açúcar no próximo ano, tendo em vista a demanda doméstica anual de quase 23 milhões de toneladas. Tal mudança pressionará os preços globais da commodity, que já caíram mais de 40% desde que atingiram 30,40 centavos de dólar por libra-peso, maior patamar em 29 anos, em fevereiro deste ano. Contudo, a expansão da produção doméstica não deve provocar um declínio acentuado nos preços locais, uma vez que as usinas devem transferir os custos aos consumidores. A área semeada com cana-de-açúcar no país provavelmente subirá para 5,4 milhões de hectares no ano que vem, em comparação com 4,2 milhões de hectares em 2009/2010. O governo estimou oficialmente a produção do ano-safra 2010/2011 em 23 milhões de toneladas, mas as indústrias estimam que o número final será muito maior porque o cultivo teria ficado muito acima do notificado. A Índia é o maior consumidor e o segundo maior produtor de açúcar do mundo. 


Etanol 

Os preços médios do etanol combustível seguem em trajetória de recuperação nas usinas de São Paulo. O preço médio do etanol hidratado combustível subiu 4,26% e o do etanol anidro aumentou 3,56% nas usinas de São Paulo na última semana, de acordo com os indicadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq). O etanol hidratado subiu para R$ 0,7698 o litro, ante R$ 0,7383 o litro na semana anterior. Já o valor médio do litro do anidro aumentou de R$ 0,8664 para R$ 0,8973. Os preços não incluem impostos. Com o feriado dessa sexta-feira (09/07) no Estado de São Paulo, distribuidoras ampliaram a demanda nos quatro dias úteis e os negócios foram maiores. Do lado da oferta, as usinas, com menos necessidade de caixa, puderam negociar melhor o combustível, ou mesmo, ficar fora do mercado. O cenário financeiro atual favorece a estocagem de etanol durante a safra 2010/2011, operação que terá financiamento de R$ 2,4 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A situação é positiva, diferente da vivida pelo setor em 2009, quando apenas 10% dos R$ 2,3 bilhões destinados foram tomados. 

No ano passado, havia uma crise de liquidez e do próprio setor sucroalcooleiro. A portaria 371, do Ministério da Fazenda, era o último ponto ainda pendente para que o dinheiro fosse liberado. A portaria publicada na sexta-feira (02/07) operacionaliza a subvenção do Tesouro Nacional aos empréstimos do BNDES no programa de financiamento para estocagem de etanol combustível. Por meio dele, o governo deve destinar R$ 15 milhões para subsidiar a equalização de juros até os 9% da operação do banco de fomento. Os produtores de etanol estão preparados para tomar o empréstimo e só aguardam a publicação das regras pelo BNDES. No entanto, mesmo com as melhores condições financeiras, usineiros deverão ter problemas na obtenção dos empréstimos, principalmente em relação às garantias pedidas pelos agentes financeiros que repassam os recursos. Pelas regras, a cada 1 litro de etanol financiado para estocagem, o empresário deverá ter 1,5 litro no tanque como garantia. Só que muitos bancos repassadores vão pedir outras garantias. Há conversas preliminares entre o BNDES e representantes do setor sucroalcooleiro para que operações acima do limite de R$ 50 milhões sejam automáticas e sem burocracia. Pelas regras do financiamento, o etanol estocado durante a safra deverá ser colocado no mercado entre dezembro e abril, período da entressafra da cana-de-açúcar, matéria-prima do combustível.
Fonte: Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica
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